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Recordo muitas vezes aquele que foi um dos momentos distintivos da minha vida. Às vezes há momentos assim, que imprimem, que me fazem recordar todas as circunstâncias, toda a envolvente, os cheiros, os sons, os arrepios que percorrem o corpo. Este momento a que me refiro foi passado, há uns anos, no hospital de santo antónio. Tinha acabado de estar junto do meu sogro, em coma profundo, e tinha percebido, pela primeira, vez como era possível estar diante de um um corpo, ainda com vida alimentada artificialmente, que era apenas isso, um corpo, com a nítida sensação que quem o habitara apenas algumas horas antes já partira para junto do Pai. No entanto, se isso foi impressionante, o que mais recordo é de olhar pela janela e perceber como me fazia confusão que as pessoas continuassem a sua vida normal sem se aperceber que alguém morria, naquela altura, a poucos metros delas. Impressionou-me - no sentido de me ficar impresso - o tremendo banho de humildade: o mundo continua apesar de mim.

Deixar ir é-me sempre doloroso. Mas sempre elucidativo. Porque me proporciona sempre o retomar daquele banho de humildade. Porque na verdade o mundo continua. Apesar de mim.

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